sexta-feira, 18 de abril de 2008

PIERRE FATUMBI VERGER "MENSAGEIRO ENTRE DOIS MUNDOS"


Pierre Fatumbi Verger, viveu durante dezessete anos em sucessivas viagens, desde 1948, pelas bandas ocidentais da África, em terras iorubás. Tornou-se babalaô em Kêto, por volta de 1950, e foi por essa época que recebeu de seu mestre Oluwo o nome de Fatumbi: "Aquele que nasceu de novo (pela graça) de Ifá".


Pierre Fatumbi Verger, nasceu Pierre Edouard Leopold Verger, em 4 de novembro de 1902, em Paris. Fotógrafo, etnólogo e babalaô, costuma explicar os fatos de sua vida como conseqüência de acasos ... Aos 30 anos o primeiro "acaso" importante: tendo perdido todos os membros da família e sem uma identidade mais profunda com o contexto social em que vivia, decide então abandoná-lo. Com uma mochila e uma máquina fotográfica parte em busca de novas experiências e sobretudo do esquecimento de tantas outras. Assim, deixa Paris em 1932 e segue para as Ilhas do Pacífico. Durante 15 anos viaja por diferentes regiões do mundo, fotografando o lhe desperta o interesse. Pouco a pouco, reúne uma preciosa documentação sobre antigas civilizações em vias de desaparecimento, ou que sofriam profunda transformação em suas tradições culturais. O exame deste material já revela a maestria do fotógrafo e o talento do pesquisador. Neste período conhece e documenta o Taiti (1933), os Estados Unidos, Japão e China (1934 e 37), a Itália, Espanha e África (Sudão, hoje Malí; o Niger, Alto Volta, Togo e Daomé, atual Benin, em 1935); as Antilhas (1936), o México (1937, 39 e 57); Ilhas Filipinas e a Indochina (então constituída por Tailândia, Laos, Camboja e os Vietnams, em 1938); Guatemala e o Equador (1939); Senegal (mobilizado, em 1940); Argentina (1941), Peru e Bolívia (1942 e 46); Brasil (1946). Além de repórter, foi também encarregado do laboratório fotográfico do Musée D’Etnographie (hoje Musée de 1'Homme), em Paris. Correspondente de guerra na China para a revista Life e encarregado de coletar documentos fotográficos para o Museo Nacional de Lima, no Peru. Um segundo "acaso" importante precipita Verger definitivamente no campo da pesquisa. É quando descobre a Bahia em 1946. Trazido pela leitura de Jubiabá, de Jorge Amado, apaixona-se pela cidade e sobretudo pela gente que aqui vivia. Instala-se e passa a conviver intensamente com o povo. Desse convívio surge o interesse pela compreensão da sua história e da sua cultura. A partir de então, suas viagens tornam-se menos decididas pelo acaso e as circunstâncias. O que lhe interessa agora são os aspectos culturais decorrentes da diáspora negra no Novo Mundo. Insta-se na Bahia e faz sucessivas viagens à costa ocidental de África e a Paramaribo (1948), Haiti (1949) e Cuba (1957). Inicia uma incansável pesquisa sobre o culto dos orixás e sobre as influências econômicas e culturais do tráfico de escravos. Intensifica suas investigações sobre a etnia ioruba, sua influência na cultura baiana e as ligações que estabelecem entre si. A relação de Verger com a cultura negra aos poucos ultrapassa o interesse intelectual. Envolve-se profundamente com o candomblé, onde é aceito e iniciado, e onde passa a exercer funções. Na Bahia, é Ogã no Opô Afonjá, da finada Mãe Senhora, e no Opô Aganjú de Balbino, em Lauro de Freitas. No ainda Daomé, foi iniciado como babalaô quando estudava a arte adivinhatória do Ifá, recebendo o nome de Fatumbi - renascido pelo Ifá. Como babalaô, teve acesso ao patrimônio cultural dos iorubas, sua mitologia e sua botânica aplicada à terapêutica e à liturgia dos cultos de possessão. Verger consolida, desde repórter fotográfico, um importante trabalho histórico e etnográfico. Sua observação arguta, o despojamento, às vezes austero, dos bens materiais, sua humildade intelectual e sua sabedoria humana – baseada na simplicidade, no respeito e na verdade – certamente facilitaram sua tarefa. Em 1966, o percurso e o talento da obra de Verger são oficialmente reconhecidos pela ciência: A Universidade de Paris, através da Sorbonne, lhe confere o título de Doutor, embora tenha Verger abandonado os estudos acadêmicos, ainda no Liceu, aos 17 anos. Com a publicação dos seus livros no Brasil, a partir de 1980, pela Editora Corrupio, sua obra passou a ser conhecida e tornou-se referência para estudiosos nas áreas da história e economia do tráfico de escravos no Brasil, sobre as religiões e a cultura ioruba em toda sua abrangência. Os estudos de Pierre Verger podem ser agrupados em três pesquisas principais, que deram origem, por sua vez, às grandes obras, que se multiplicaram em livros, artigos, conferência, etc.: os estudos sobre os orixás e seus cultos na África e no Novo Mundo (Note sur le culte des orisha e vodoun à Bahia de Tous les Saints au Brésil et à l’ancienne Côte des Esclaves (Memória no 51 do IFAN/Dakar 1951) e Orixás, os deuses iorubas na África e no Novo Mundo (Corrupio 1982); a pesquisa fundamental sobre o tráfico de escravos, suas razões históricas e econômicas, e conseqüências culturais (Fluxo e Refluxo do tráfico de escravos entre o golfo de Benin e a Bahia de Todos os Santos (Corrupio 1985); e a pesquisa sobre a tradição oral e a botânica aplicada à terapêutica tradicional e aos cultos de possessão entre os iorubas (inúmeros artigos, entre eles Automatismo verbal e comunicação do saber entre os iorubas (versão francesa publicada em L’Homme Revue française d’anthropologie, tomo XII, Paris, 1972; Esplendor e decadência do culto de Iyami Osorongá (Artigos, Tomo I; Corrupio 1992); Lendas dos Orixás e Lendas Africanas dos Orixás (Corrupio/1981-1985) e Ewé, o uso das plantas na sociedade ioruba (Odebrecht/Cia. das Letras, 1995). Suas pesquisas despertaram, desde o início, o interesse de pesquisadores e instituições de pesquisas pelo rigor com que Verger colhia suas informações e a aparente falta de metodologia acadêmica. Sem pressa, sem perseguir hipóteses pré-estabelecidas e, como ele gostava de frisar, "sem metodologia mas simplesmente anotando o que via e ouvia; observando e esperando que a informação fosse dada no momento oportuno". Como pesquisador agia como fotógrafo; sendo fiel à documentação, geralmente muito volumosa, com a transcrição dos documentos na íntegra e sem atualização da linguagem, como um mosaico que vai se completando aos poucos. Seduzido pela beleza da Bahia e sua gente, começou a ficar curioso com o fato desse povo que, apesar de ter passado pela experiência dolorosa e humilhante da escravidão, não se deixou impregnar pelo ódio e a amargura nem pela tentação da discriminação. E logo Verger percebeu que isto derivava muito provavelmente da sua religião. Dizia sempre que o seu interesse pelo Candomblé se devia ao fato dela "desempenhar um papel social muito importante", conferindo aos seus adeptos confere a seus adeptos um enraizamento cultural, uma identidade bem definida, fundamentais para seu sentido de dignidade como indivíduo e como povo. "Aqui eles não se sentem humilhados, mas são respeitados justamente pelas coisas que lhes são próprias". O pesquisador incansável terminou aos poucos colocando sua arte fotográfica a serviço de suas pesquisas, até interromper totalmente esta atividade em 1973. Em 1973 passou a integrar o corpo de professores da Universidade Federal da Bahia, com a tarefa inicial de implantar em Salvador o Museu Afro Brasileiro. Foi professor visitante da Universidade de Ifé, na Nigéria e pertenceu, também, ao quadro de pesquisadores do CNRS. Pierre Verger faleceu em 11 de fevereiro de 1996. Até essa data, continuou incansável trabalho sobre sua documentação, colhida durante cerca de 50 anos de investigações, sonhando ainda em levar seu trabalho adiante através da formação um quadro de pesquisadores e auxiliares na Fundação Pierre Verger, criada em 1989 para dar guarda e proteção ao seu acervo. Pierre Fatumbi Verger seguiu sendo o mesmo homem "livre e disponível" do qual falava seu amigo Théodore Monod, no prefácio ao Dieux d’Afrique (Paris, 1954): "... fiel a sua escolha, segue no exercício profundo e correspondente da solidão e da liberdade".


LENDA DO OBÍ

Era uma vez um belo rapaz, forte e saudável, cujo nome era Obi, seu trabalho era levar os recados dos homens, para os Orixás.Toda vez que um homem precisava fazer uma oferenda a uma divindade,ele deveria falar no ouvido de Obi todas as suas orações, pedidos e lamentações, e este, por sua vez, transmitiria os recados e traria uma resposta daquela divindade.Com o tempo, Obi passou a ser mais requisitado pelos seus trabalhos, pois com sua ajuda tudo se tornara mais fácil, a resposta era imediata. Isso foi fazendo com que Obi ficasse muito orgulhoso e envaidecido, passando a cobrar preços cada vez mais altos pelos seus serviços, acumulando assim, muitas riquezas.Obi sentia-se livre para agir desta forma, andava pelas ruas sem falsa modéstia, dizendo o quanto as pessoas precisavam de seus favores.O tempo foi passando e a situação chegou a tal ponto, que Exu ficou incomodado com as atitudes de Obi.Exu, que caminha entre o céu e a terra com muita facilidade, foi falar com Olodumare (o Deus Supremo), relatando tudo o que estava acontecendo na terra, especialmente o comportamento de Obi.Olodumare ficou muito triste com o que Obi estava fazendo e tomou uma decisão, ir pessoalmente a casa de Obi , falar com ele, e ver quais seriam seus argumentos. O Deus Supremo, que nunca havia saído do céu anteriormente, seguiu em direção a casa de Obi, lá chegando, bateu na porta, e Obi foi atender, sem imaginar quem poderia estar do lado de fora, ao abrir a porta, tão grande foi seu susto, que caiu de costas no chão imobilizado, foi quando Olodumare disse a ele: "tanto foi o teu orgulho e vaidade que vim pessoalmente a sua casa para falar de minha tristeza, como reparação de seus erros, a partir de hoje nunca mais falará de pé, toda vez alguém precisar de teu trabalho é no chão que deverá te invocar,esse será o teu castigo para sempre".E até hoje é assim que consultamos Obi, no chão.

A GRANDE MÃE DO CANDOMBLÉ MÃE MENININHA DO GANTOIS


Brincando de Candomblé. Era assim que Escolástica Maria da Conceição Nazaré, menina pobre da periferia de Salvador, Bahia, ocupava suas horas livres na infância. Habilidosa e criativa, ela tinha um jeito todo especial de improvisar a diversão: reunia folhas de bananeira, espinhos de mandacaru, sementes e frutas e com elas ia dando forma a pequenos bonecos. Depois de prontos, cada um recebia o nome de uma divindade do Candomblé. Havia Oxossi, Ogum, Oxum e uma porção de outros orixás para a garota brincar. O Candomblé também estava presente nos sonhos de Menininha, apelido que Escolástica recebeu da avó.Nascida em 10 de fevereiro de 1894, em Salvador, ela pertencia a uma família devotada ao Candomblé. Sua bisavó, Maria Júlia da Conceição Nazaré, havia fundado, em meados do século 19, o Ilê Iya Omin Axé Iyamassê, mais conhecido como terreiro do Gantois (nome do antigo proprietário do terreno, que era francês). Sob a orientação da avó, das tias e da mãe, Menininha foi iniciada nos segredos da religião africana. E sem que soubesse, passou a ser preparada para o cargo, que assumiria anos depois, de ialorixá (mãe-de-santo, na língua ioruba). Nascida em 10 de fevereiro de 1894, em Salvador, ela pertencia a uma família devotada ao Candomblé. Sua bisavó, Maria Júlia da Conceição Nazaré, havia fundado, em meados do século 19, o Ilê Iya Omin Axé Iyamassê, mais conhecido como terreiro do Gantois (nome do antigo proprietário do terreno, que era francês). Sob a orientação da avó, das tias e da mãe, Menininha foi iniciada nos segredos da religião africana. E sem que soubesse, passou a ser preparada para o cargo, que assumiria anos depois, de ialorixá (mãe-de-santo, na língua ioruba). “A mãe-de-santo é a chefe da comunidade religiosa. A ela cabe o poder religioso e de todos os ritos do terreiro”.
Sob o comando de Mãe Menininha, o Gantois logo se tornou um dos terreiros mais procurados e respeitados da Bahia. Filha de Oxum, divindade relacionadas às águas doces e ao amor, a líder religiosa tinha várias características de sua orixá. Muitos que a conheceram a descrevem como uma mulher amorosa, generosa e sempre disposta a aconselhar quem a procurava. “Ela sempre tinha uma palavra, uma mensagem confortadora”,Mãe Menininha foi formando cada vez mais filhos-de-santo e sua popularidade não parou de crescer,a popularidade e o reconhecimento que Mãe Menininha alcançou contribuíram para tornar o Candomblé uma religião mais aceita no país“Ser abençoado por Mãe Menininha era um desejo de todo mundo que visitava a Bahia.
Para receber a bênção da sacerdotisa, turistas de todas as partes do país lotavam ônibus e se amontoavam na entrada do terreiro. Políticos, artistas, intelectuais e acadêmicos a procuravam constantemente em busca de conselhos.A ialorixá também recebia muita gente humilde, pobres da periferia ou do campo, que muitas vezes queriam um lugar onde comer e passar a noite.
Mãe Menininha faleceu em 13 de agosto de 1986. Nos mais de 60 anos em que liderou o terreiro do Gantois, como uma grande diplomata de sua religião, sempre tratou de explicar o Candomblé àqueles que se interessavam em aprender ou estudar o assunto. Além do ótimo relacionamento com governantes de Estado, artistas e intelectuais, a ialorixá também conquistou o respeito de líderes de outros terreiros e sacerdotes católicos, especialmente os mais ecumênicos e tolerantes. Durante vários anos, ainda que eventualmente, freqüentava missas católicas. “É preciso lembrar que as religiões africanas não são dogmáticas, ou seja, não exigem adesão exclusiva. Então, você pode fazer seu culto e aceitar outras práticas eventualmente”,Mãe Menininha declarou uma vez: “Deus? O mesmo Deus da Igreja é o do Candomblé. A África conhece o nosso Deus tanto quanto nós, com o nome de Olorum. A morada dele é lá em cima e a nossa, cá embaixo”. A frase está hoje exposta no Memorial Mãe Menininha do Gantois, em Salvador. No pequeno museu, que reúne objetos pessoais da ialorixá e funciona no próprio terreiro, estão, entre outros objetos pessoais, a mesinha onde jogava os búzios, o rádio que gostava de ouvir e os óculos de armação grossa, sua marca registrada.

OS POVOS BANTU DA ANGOLA


O termo bantu aplica-se a uma civilização que conserva a sua unidade e foi desenvolvida por povos de raça negra. O radical "ntu", comum em muitas línguas bantu, significa pois, homens, seres humanos.Os banto, além do nítido parentesco linguístico conservam um fundo de crenças, ritos e costumes similares, uma cultura com traços específicos e idênticos que os assemelha e agrupa, independentemente da identidade racial. Os banto caracterizam-se culturalmente por uma tecnologia variada , escultura de grande originalidade estilística, um somatório de conhecimento empíricos notáveis e por uma literatura orla, densa e interessante, de notável expressão intelectual. As línguas actualmente faladas em Angola são por ordem de antiguidades: bosquímana, a banto, e a portuguesa. Das três, apenas a língua portuguesa possui forma escrita. As línguas banto apresentam unidade genealógica. Homburguer, "eminente banturista" afirma que o primeiro ponto adquirido no domínio da linguística comparada foi a unidade do grupo bantu. Cita ainda, a propósito da história do conhecimento desta unidade, que os primeiros viajantes portugueses tinham constatado poderem os naturais de Angola comunicar os da costa de Moçambique. Os bantu angolanos repartem-se por nove grandes grupos etnolinguísticos:Quicongo, Quimbundo, Lunda-Quioco, Mbundo, Ganguela, Nhaneca-Humbe, Ambó, Herero e Xindonga: que por sua vez se subdividem em cerca de uma centena de subgrupos, tradicionalmente designados por tribos.

O REI DO CANDOMBLÉ

Um dos diversos discos que Joãozinho da Gomeia
gravou no intuito de divulgar a religião do Candomblé de Angola.

JOÃOZINHO DA GOMÉIA - O REI DO CANDOMBLÉ


João Alves Torres Filho Nasceu em 27 de março de março de 1914, na cidade de Inhambupe, Bahia. Filho de Pais católicos, chegou a ser coroinha. Ainda menino, descobriu o mundo dos Orixás e dos Caboclos; em 1924, aos dez anos, deixou a casa dos pais e foi para Salvador, onde trabalhou em um armazém. Lá conheceu uma mulher que considerava como sua madrinha; ela o levou pela primeira vez a um candomblé, o terreiro de Severiano Manuel de Abreu, o lendário Jubiabá, citado por Jorge Amado em uma de suas obras. Foi iniciado na nação Angola no dia 21 de dezembro de 1931. Foi um dos mais famosos Babalorixa´s do Brasil entre as décadas de 1940 a 1960. A rua Goméia, onde fundou seu primeiro terreiro no bairro de São Caetano, na Cidade Baixa de Salvador, lhe deu o sobrenome que carregou durante toda a sua vida. Sua fama atingiu todo o país quando se mudou para a cidade de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Desde sua chegada ao Rio, em 1946, o município da Baixada Fluminense tornou-se um grande divulgador dos cultos afro-brasileiros, com a popularização de inúmeros terreiros de Candomblé. Joãozinho da Goméia foi um dos mais importantes e polêmicos divulgadores do Candomblé nos anos 60, fazendo da mídia e das artes seus grandes aliados. Faleceu em 19 de março de 1971, em São Paulo. Foi enterrado no cemitério de Duque de Caxias.